Institucional
Filhote de peixe-boi encalhado na Pedra do Sal, é translocado do Piauí, para Centro de Mamíferos Aquáticos-Icmbio, em Itamaracá
24 de maio de 2023
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No último dia 18 de maio, pescadores da comunidade Pedra do Sal, em Parnaíba, entraram em contato com a Comissão Ilha Ativa-CIA, informando sobre encalhe de um peixe-boi na região do Saquinho, localidade bem importante para pesca artesanal.

A Comissão Ilha Ativa, entrou em contato com técnicos do ICMBio, para realizar o resgate do animal. Se tratava de um filhote de peixe-boi, macho, medindo 126 cm, pesando 27 quilos. O animal foi encaminhado imediatamente para a Base do Projeto Peixe-boi em Cajueiro da Praia, onde recebeu os primeiros atendimentos para sua estabilização.

Foram identificados marcas de cortes, podendo ser caracterizada com marcas de interação antrópica, acúmulos de epibiontes, o que pode ser configurado com um período a deriva do animal, sem os cuidados da mãe. Ressalta-se que mãe e filhote ficam juntos por um período de até 2 anos, onde será alimentado, e demais comportamentos de cuidado parental.

Durante o período que o animal ficou sob os cuidados dos técnicos da Base Peixe-boi/APA Delta do Parnaíba/ICMBio, o mesmo foi alimentado com leite de soja sem lactose, misturado com mel e óleo de canola, assemelhando-se ao leite materno.

Em virtude de dificuldade no nado, o filhote passou por exame de Raio-X, onde foi identificado secreção pulmonar, tratada imediatamente com aplicação de antibiótico injetável, além de ser administrado simeticona em gotas, para conter as cólicas intestinais.

Translocação

Durante todo o processo de estabilização do animal, foi realizada uma força tarefa das instituições Comissão Ilha Ativa, Apa Delta do Parnaíba, Reapi, Deputados eleitos representantes do Piauí, junto ao Governo do Estado, para liberação de uma aeronave, onde seria realizado o transporte do animal até o Centro de Mamíferos Aquáticos, em Itamaracá-PE.

Essa translocação se deve ao fato de independente do Piauí, possuir a maior população nativa de peixes-bois marinhos, Lei Estadual de proteção da Espécie, não há no estado, um espaço adequado para a reabilitação dessas espécies, que são os mamíferos marinhos, mais ameaçados de extinção do Brasil, e possuir uma grande importância ecológica para o meio ambiente.

Temos ao todo, 5 animais translocados para Itamaracá, sendo eles: Mocinha encalhada ainda com cordão umbilical em 2017, na Praia Peito de Moça em Luis Correia;  Leno, encalhado em 2018 na Praia do Coqueiro-Luís Correia, também com resquícios de cordão umbilical; Whind, encalha na Praia do Macapá em 2022, também com coto umbilical; Amaro, encalhado no Maranhão, em 2023 e por último, Farofa, encalhado no último dia 18 de maio, na Praia da Pedra do Sal.

Todos esses animais estão no Centro de Mamíferos Aquáticos – CMA/ICMBio/Itamaracá-PE, aguardando espaços adequados para seu processo de aclimatação e assim serem devolvidos ao ambiente natural.

Causas dos encalhes

O Piauí vem apresentando sucessivos encalhes de filhotes, neonatos, desde o ano de 2017. No Brasil, as principais ameaças para preservação da espécie de peixe-boi marinho são: colisões e atropelamentos; Perda e degradação de habitat; Encalhes de neonatos; Lixo e contaminantes; Turismo de observação; Molestamento; Exploração de petróleo e gás.

Nos estudos realizados por diversos pesquisadores, uma das grandes ameaças  listadas para os peixes-bois, nos estuários Timonha e Ubatuba e Camurupim e Cardoso, são os avanços das fazendas de camarão e salinas, que são instaladas principalmente nas áreas de manguezais, áreas prioritárias para preservação da espécie.

Antigamente, a maior ameaça aos peixes-bois marinho, seria a caça predatória, que dizimou grande parte da população que ocupa a costa brasileira. Temos também a captura acidental, com a pesca de arrasto para camarão, além do que essa prática, causa destruição dos bancos de fanerogramas marinhas, locais onde a espécie se alimenta.

Aqui no Piauí, temos identificado uma crescente ocupação desordenada, especulação imobiliária, nas áreas consideradas Áreas de Preservação, regiões costeiras, mangues, entre outras, diminuindo a área de vida, causando perda de habitat, redução das áreas para as fêmeas parirem os filhotes, fazendo com que as mesmas tenham suas crias, em mar aberto, causando os encalhes dos neonatos.

Assim, buscando fortalecer as ações de preservação da espécie, é necessário maior fiscalização com aplicação de penas, bem como a possibilidade de promover recuperação dos danos ambientais, contribuindo dessa forma para a redução das ameaças que incidem sob as populações de peixes-bois.

Agradecimentos

Agradecemos primeiramente aos pescadores, por serem os maiores parceiros e os responsáveis por salvar todos esses animais, sem a ajuda deles, não chegaríamos aos resultados positivos dessas ações.

Agradecemos também, aos Deputados Jadyel Alencar, Georgiano, Marcos Aurélio, a Secretaria Regina Sousa, Conceição Araujo, Coordenadora do Movimento Nacional de Direitos Humanos no Piauí, Tania Martins, da REAPI, por terem colaborado na mobilização junto ao Governo do Estado e Secretaria de Meio Ambiente do Estado, possibilitando a liberação do avião e o translado do peixe-boi Farofa.

Parabenizamos e agradecemos a APA Delta do Parnaíba/Base peixe-boi/ICMBio, pelos cuidados com o animal e todos os esforços feitos para manter o animal seguro e estabilizado, até seu transporte.